O Partido Fardado não desaparecerá sozinho
O Partido Fardado tomou uma decisão após o 8 de janeiro: dar um passo atrás agora para dar dois à frente depois. Por Pedro Marin | Boletim da Revista Opera
O atual comandante do Exército, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, chegou ao cargo como um general legalista, democrático e profissional, capaz de “despolitizar” a tropa. Anunciado como comandante no dia 21 de janeiro deste ano, Paiva havia se destacado três dias antes, ao fazer um discurso – que inundou as redes sociais – no qual defendia os resultados das urnas, o apartidarismo das Forças Armadas e a necessidade de respeitar a hierarquia, a disciplina e a coesão para “cumprir a missão, não interessa quem está no comando”.
Tomás participou da missão brasileira no Haiti e das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a instalação das UPPs nos complexos da Penha e Alemão, no Rio de Janeiro, em 2012. Foi também braço direito do general Eduardo Villas Bôas quando este era comandante e, como revelamos ainda no dia 21 de janeiro, participou ativamente do episódio do tuíte de Villas Bôas na véspera do julgamento de habeas corpus de Lula, em 2018. Isto é: o discurso do general mais parecia mise-en-scène do que declaração de princípios.
De fato, acabou se revelando que, no mesmo dia em que fazia seu corajoso discurso público, Tomás Paiva dizia, em reunião privada a subordinados, que a eleição de Lula foi “indesejada”, e que “faz parte da cadeia de comando segurar para que isso [reformas propostas pelo governo para as Forças Armadas] não ocorra. Agora fica mais difícil, mas nós vamos segurar, porque o Brasil precisa das Forças Armadas […] depende da força política do comandante e dos comandantes de Força para obstar qualquer tipo de tentativa de querer nos jogar para o enquadramento”.
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As palavras do atual comandante lembravam as de Villas Bôas, pronunciadas em novembro de 2022, em defesa de Tomás Miguel: “Nesse momento extremo que a nação atravessa é imprescindível que a solidez das estruturas do Exército sejam preservadas. A história ensina que sempre que essas condições foram negligenciadas, produziu-se catástrofe para ela própria e para a Nação. Nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir.”
Isto é, tanto Villas Bôas como Tomás, o padrinho e o braço direito, disseram, com dois meses de diferença, a mesma coisa: que com a derrota de Bolsonaro e a chegada de Lula ao governo, era hora de dar um passo atrás para, depois, dar dois à frente; que “segurar" as reformas” depende “da força política do comandante” (na versão de Tomás) ou que “nesse momento extremo” é imprenscindível “que a solidez das estruturas do Exército sejam preservadas” (na versão de Villas Bôas), porque, afinal, “nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir”.
Pouco após Tomás Miguel ser empossado comandante, em uma conversa que fiz com o Dr. Táki Cordas, disse que “se o general Tomás Miguel realmente é um general comprometido com a democracia e o legalismo, não vai bastar ele seguir o exemplo de São Francisco. Não basta ele se despir do golpismo, ou simplesmente despir o Exército do golpismo. Uma referência melhor para o general seria Moisés, que não só abre o mar para que um novo Exército possa passar como fecha o mar sobre um Exército que o perseguia”.
Filho de pai franciscano, revelou-se que sequer despir-se individualmente do golpismo está nos planos de Tomás, quem dirá quebrar as velhas leis do Exército e fundar novas, como fez Moisés. Ao contrário, o general busca se esconder atrás da imagem do legalismo para, precisamente, manter o Exército tal como está. É um santo do pau oco.
Estes fatos todos demonstram que não basta ao governo Lula falar em “despolitização das Forças Armadas”, se contentando com o silêncio dos militares nos dias 31 de março ou com discursos ditos legalistas. Não se trata de mudar comandantes supondo-os neutros, remanejar golpistas, fazer reformas tímidas. Para enfrentar o Partido Fardado, há que se pôr fim em todas as estruturas que servem às Forças Armadas para militarizar o Estado e a política (o GSI é um exemplo claro); isolar os generais de todas as áreas que não lhes caibam; submeter as Forças Armadas plenamente ao comando civil e – mais importante, pois condição para tudo isso – quebrar-lhes o monopólio da força. Isso tudo implica olhar às Forças Armadas como prováveis inimigas, manjedouras do golpismo e progenitoras do Partido Fardado, não como instituições “neutras” às quais basta uma nova orientação para se “despolitizarem” e se limparem do “bolsonarismo”. Como desde as reformas de Góes Monteiro está claro, o problema não é mais “a política entrando no Exército”, mas sim o Exército entrando na política; política do Exército, não no Exército, era o que promulgava Góes.
Aqui está uns dos elementos do Brasil Imperial. Por via de regra,a forças Armadas deveriam está com toda a atenção para fronteiras do país. Como podemos perceber,as armadas estão virduosamente empegrinadas no campo político.
Campo esse que é tangível a sociedade civil.